As
chuvas que devastaram diversas áreas da região serrana do Rio de Janeiro, em
janeiro de 2011, foram tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), em
Jornalismo, de Luciano Ratamero, defendido no final do primeiro semestre de
2012. Natural de Nova Friburgo, onde morou até seu ingresso na UFF, em 2008,
ele estava em São Pedro da Serra, distrito friburguense, nos dias 11 e 12 de
janeiro, quando começaram as tempestades. Considerada a maior catástrofe
climática da história do país, as chuvas causaram mais de 900 mortes. Apenas em
Friburgo, foram registradas 451 vítimas e mais de uma centena de desaparecidos.

Quando conseguiu encontrá-los, soube
que a casa de sua família foi condenada. Seus pais foram resgatados de bote, em
Córrego Dantas, um dos mais afetados. “O cenário era indescritível. Todas as
memórias que tinha da cidade, em poucos minutos se tornaram ultrapassadas, e a
nova realidade começou a tomar seu lugar. A cidade virou um misto de lama,
escombros e pedras”, recordou. “E a
mudança, para pior, continuou. Nos meses seguintes, houve um êxodo absurdo. Uma
em cada duas lojas está procurando funcionários, e o turismo não é mais o
mesmo.”
Foto denúncia
Desde
então, Ratamero decidiu que Nova Friburgo seria o tema do seu TCC. A escolha
por um trabalho fotográfico foi consequência da familiaridade com o formato e
pelos trabalhos realizados anteriormente durante o curso. E a decisão por fotos
denúncias foi “culpa” dos políticos. “Ouvia falar que nada tinha sido feito,
mas não tinha a noção exata, porque estava morando em Niterói.” Visitando a
cidade, já pensando em como fazer o trabalho, percebeu o total descaso das
autoridades. “Um ano depois, praticamente nada foi feito. Em Córrego Dantas,
por exemplo, melhoraram a questão do assoreamento do rio, mas nenhuma obra de
contenção foi iniciada. Muitas pessoas continuam morando em casas condenadas.
Meus pais não moram mais lá, construíram uma casa no terreno dos meus avós, num
bairro bem mais seguro. Eles já foram procurados por pessoas querendo alugar a
nossa antiga casa.”
No início, a ideia era fazer um ensaio fotográfico dos lugares mais afetados, mas esse trabalho só teria impacto para os friburguenses. Pessoas que não conhecem a região não teriam noção de como estavam esses lugares logo após a tragédia e do pouco que foi realizado. Daí, o antes e depois vieram como solução para obter o resultado esperado. “A forma mais comum, típica do jornalismo impresso, é a do paralelismo entre uma foto e outra, lado a lado. Esse formato, porém, não abriria espaço para maneiras diferenciadas de explorar as novas mídias, já que elas possibilitam muito mais.” A solução de como mostrar o antes e o depois em uma única foto estática foi inspirada no ensaio “Altneuland”, do fotógrafo israelense Amit Sha'al.
Para recuperar as fotos da tragédia, Ratamero fez visitas ao acervo do jornal A Voz da Serra e da Associação de Moradores de Córrego Dantas, já que nem mesmo o jornal local conseguiu cobrir o bairro nos dias da catástrofe. “Preferi deixar de fora os grandes jornais devido à burocracia envolvida no processo de liberação das fotos e pelo fato de que, neste caso, um olhar local tende a ser mais focado no que foi importante, ao contrário do que ocorre numa grande empresa com olhar mais distante.”
Primeiramente, Ratamero escolheu
1.807 fotos. Destas, selecionou 72 e visitou os locais onde foram feitas. Em 42
imagens, fez a foto do “depois”, sempre buscando o mesmo ângulo e
enquadramento da foto de arquivo. Quatro foram descartadas. Nas 38 fotos
restantes escolheu quais as áreas seriam
representadas por fotos antigas e quais deveriam receber um novo registro. “Fiz
as visitas entre os dias 10 e 20 de janeiro de 2012, exatamente um ano após a
tragédia, para que as imagens produzidas fossem fiéis ao intuito do ensaio. Fiz
ao todo quatro visitas a oito bairros para conseguir capturar as novas imagens.
Em quatro locais, fui abordado por moradores e trabalhadores, e todos se
demonstraram indignados com a situação da cidade após um ano do ocorrido.”

O trabalho de Luciano Ratamero foi
muito elogiado pelos professores da banca, formada por Rômulo Correa, seu
orientador, Dante Gastaldoni e Larissa Morais. Muitas pessoas viram as fotos
pela Internet e resolveram compartilhar o ensaio em redes sociais. O jornal A
Voz da Serra dedicou um caderno especial ao trabalho do ex-aluno da UFF.
“Meu objetivo principal era que os moradores de Friburgo vissem. Todos
gostaram, minha mãe chorou ao ver pela primeira vez. Eu também gostei muito,
faria tudo de novo. Eu não tinha como abordar esse tema sem ser subjetivo. Quem
sabe, futuramente, farei uma grande reportagem sobre o assunto.”
Confira aqui as fotos do ensaio
Por Alan Pestre
Confira aqui as fotos do ensaio
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