quarta-feira, 20 de março de 2013

Caso Datena: Jornalismo a serviço do espetáculo

   
     No final de novembro de 2012, o apresentador José Luiz Datena, do programa “Brasil Urgente”, da TV Bandeirantes, assumiu o papel de “negociador” da polícia para falar com Joel, um homem armado que tinha mantido reféns a mãe e a irmã dentro da própria casa, em Diadema, na Região Metropolitana de São Paulo. Em rede nacional, Datena aconselhava Joel a se entregar, diante do cerco policial. Depois de uma conversa telefônica entre os dois, a história acabou com a libertação das mulheres e a prisão de Joel sem que nenhum tiro fosse disparado.

     O barulho se desenvolveu depois do episódio. Muitos questionaram a ética do comunicador ao assumir um papel que seria de responsabilidade dos agentes de segurança, e não de jornalistas. “Pelo fato de não ter sido uma farsa e não ter sido o apresentador quem tomou a iniciativa, considero que é um exemplo de mais responsabilidade. Mas caberia à polícia tomar uma providência, no sentido de intervir, de orientar o apresentador para que não aceitasse essa mediação”, disse Marco Schneider, professor de ética jornalística do Departamento de Comunicação Social da UFF.

     O questionamento, segundo os especialistas, não está relacionado apenas ao fato de o jornalista ter aceitado esse papel numa situação de conflito, mas principalmente à apropriação do episódio como espetáculo. Como afirma Schneider, “a exploração comercial disso é evidentemente indefensável, indecente, uma distorção. Deveria ser denunciado e proibido”.

Qualidade na apuração

     As fontes ouvidas observam que o objetivo econômico não deve superar a ética jornalística de informar de maneira responsável. Sobre o tema, a professora Danielle Brasiliense, que coordena o Observatório de Mídia e Violência da UFF, assinala que “o jornalismo está trabalhando para ter audiência a qualquer preço. O espetáculo quebrou com a aura da qualidade na apuração”.


     Em matérias como a do “Brasil Urgente”, o produtor de notícias se converte numa figura que procura aumentar sua popularidade e seu reconhecimento junto à população através de métodos eticamente duvidosos. “Eu os chamo de benevolentes da Justiça, pessoas que usam a informação para benefício próprio”, opina Danielle. “É uma irresponsabilidade social. O jornalista deveria atuar para gerar uma ampliação da critica. Esse é seu verdadeiro objetivo”, complementa.

Por Mariana Vélez

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