Lentes de Dilliany Justino mergulham no universo de duas personagens fascinantes que atuam na produção ilegal de carvão no interior da Bahia
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Carvoeiras de Taquari (Foto: Dilliany Justino) |
Os ensaios fotográficos são uma ótima possibilidade de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), principalmente para quem se identificou com esta forma de fazer jornalismo desde que entrou na universidade. Este é o caso de Dilliany Justino, que terminou o curso no primeiro semestre de 2011 com o ensaio fotográfico “Maciana e Macilene: carvoeiras - Um retrato da produção ilegal de carvão em Taquari, extremo Sul da Bahia”.
O amor pela fotografia já era antigo e se intensificou depois que Dilliany fez o curso Fotógrafos Populares da Maré, entre 2007 e 2008: “Quando comecei a pensar no meu TCC, decidi que seria sobre fotografia”. A opção pelas carvoeiras da Bahia como tema do ensaio fotográfico veio depois. De início, Dilliany pretendia aproveitar o intercâmbio na África do Sul em 2010 para a realização do trabalho. Como a ideia não avançou, a estudante voltou para o Brasil precisando encontrar um novo assunto “até que, numa viagem a passeio para a Bahia, o tema se colocou na minha frente”, relata.
Ela se refere à viagem a Taquari, distrito pertencente aos municípios de Caravelas e Alcobaça, na Bahia, e aconteceu por meio de um convite da amiga de faculdade Jaqueline Deister. A parceria é antiga, como conta Jaqueline: “Eu e Dilly sempre formamos uma ótima parceria. Ao longo da faculdade, desenvolvemos uma série de trabalhos mais voltados para o jornalismo social. Foi o caso da reportagem radiofônica ‘Catador não é lixo’ e de outra anterior sobre prostitutas. Dilly participou também do meu radiodocumentário ‘Brasil e África: entre quilombos e bantustões a gente se entende’, que resultou no meu TCC. Somos grandes amigas e sempre que possível procuramos realizar ou projetar trabalhos juntas”.
‘Pegando no pesado’
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Colação de grau Dilliany e Jaqueline |
Durante a viagem à Bahia, Dilliany conheceu as carvoeiras Maciana e Macilene e teve certeza de que o dia a dia das trabalhadoras precisava ser documentado. A economia do distrito de Taquari baseia-se na produção ilegal de carvão vegetal. Apesar disso, segundo Dilliany, as personagens foram bem solícitas, não sentiram medo nem viram a necessidade de esconder seus nomes. A fotógrafa e a amiga Jaqueline participaram de todas as etapas da produção do carvão, muitas vezes mudando de papel com as irmãs carvoeiras e “pegando no pesado”.
A escolha por apresentar as fotos apenas em preto e branco teve finalidade estética, como explica Dilliany: “Comparando as fotos em cor e PB, vi que elas ganhavam muito mais em PB. Acredito que, com o PB, consegui mostrar mais o que eu queria: as expressões, a luz, a fumaça, o carvão. A cor do ambiente não tinha força suficiente para ser mantida”.
Mas um ensaio fotográfico não se resume às imagens, exigindo da autora embasamento teórico. Dilliany conhecia apenas fotos do assunto, como as produzidas por João Roberto Ripper. No entanto, como ela mesma afirma, o tema sempre foi mostrado sob o ângulo da denúncia do trabalho escravo e infantil. Sua pesquisa é inédita porque a intenção é a de homenagear as personagens retratadas. E daí surgiram os problemas. “Uma das maiores dificuldades na abordagem de um tema inédito é justamente conseguir material, ainda mais por ser um tema sobre uma atividade ilegal. Procurei dados, entrei em contato com associações, IBGE, empresas. Mas não há interesse na divulgação de dados sobre este assunto”, conta a fotógrafa.
Os planos de Dilliany não chegaram ao fim. “Tenho planos de continuar me desenvolvendo no campo da fotografia, principalmente documental. Com certeza, pretendo continuar documentando as carvoeiras. Gosto de assuntos pouco abordados, diferentes, escondidos, fora da minha própria realidade. Gosto de mostrar para as pessoas do meu mundo que existem vários outros mundos. É nesse modelo de jornalismo que acredito”.
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