Por Marcos Oliveira
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Quilombo de Jauari (Foto: Luiz Guilherme Fernandes) |
“É de se estranhar ouvir sobre as comunidades quilombolas nos dias de hoje, 201 anos após a promulgação da lei Áurea que aboliu o regime de escravidão sobre negros africanos e descendentes.” Luiz Guilherme Fernandes, recém-formado em Jornalismo na Universidade Federal Fluminense (UFF), chegou a esta conclusão quando decidiu registrar a comunidade de Jauari, localizada às margens do rio Erepecuru, no município de Oriximiná, no estado do Pará, para o seu projeto experimental de conclusão de curso.
Por meio de um projeto de extensão da TV UFF, sob orientação da professora Irene Gurgel, Luiz Fernandes teve o seu primeiro contato com uma comunidade quilombola: a de Jauari. “A possibilidade de conhecer o interior do Pará através da UFF despertou o desejo de desenvolver um trabalho em fotografia documental”, explica. O aluno ficou 35 dias na região e pôde conhecer uma história riquíssima permeada por quilombos, aldeias indígenas e campos de garimpo.
Jauari, assim como outras comunidades da região amazônica, é formada por pessoas de um mesmo tronco familiar. Segundo ele, “essa grande família, que hoje tem cerca de 220 pessoas, instituiu um modo de vida coletivo naquela propriedade”. Isso porque a solidariedade que os membros quilombolas assumem uns com os outros pode ser vista em todas as atividades do cotidiano: na pesca, na extração da castanha-do-pará, na caça a animas silvestres, nos cuidados domésticos e na fabricação de farinha, entre outras.
“O que me impressionou foi o senso de comunidade. O fato de a terra ser demarcada como propriedade coletiva das famílias que vivem em Jauari reforça a necessidade de viver em grupo. Eles realizam os trabalhos diários juntos: limpam a terra, plantam, pescam, usam a cozinha da comunidade para fazer farinha de mandioca. Desse modo, apoiando um ao outro, é que o sentido de resistência que existia no conceito quilombo ganha um novo significado de coletividade”, explica.
Luiz Fernandes fotografou a comunidade quilombola e seus moradores durante 10 dias, entre 6 e 16 de dezembro de 2009, com a ajuda do casal Dona Maria de Nazaré e Seu Zeca. Ele acompanhou o cotidiano dos membros de Jauari, como as tarefas de casa das mulheres, a pescaria, o trabalho coletivo de limpeza e os momentos de diversão (futebol, dominó e jogo de elástico).
Quando perguntado sobre a importância e a contribuição do trabalho que ele fez para a comunidade, Luiz Fernandes complementa: “A fotografia, além de servir como meio de memória e preservação das tradições culturais, pode ajudar a comunidade a levantar questões específicas sobre qualidade de vida e desenvolvimento social. Desse modo, o resultado do trabalho está de acordo com a prática dos direitos humanos aplicados a essa população importante para história do país”.
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