sábado, 19 de novembro de 2011

A força do povo quilombola da Amazônia

Trabalho em fotografia documental de Luiz Guilherme Fernandes revela modo de vida coletivo de moradores quilombolas da pequena Jauari, no Pará 


Por Marcos Oliveira

Quilombo de Jauari (Foto: Luiz Guilherme Fernandes)
“É de se estranhar ouvir sobre as comunidades quilombolas nos dias de hoje, 201 anos após a promulgação da lei Áurea que aboliu o regime de escravidão sobre negros africanos e descendentes.” Luiz Guilherme Fernandes, recém-formado em Jornalismo na Universidade Federal Fluminense (UFF), chegou a esta conclusão quando decidiu registrar a comunidade de Jauari, localizada às margens do rio Erepecuru, no município de Oriximiná, no estado do Pará, para o seu projeto experimental de conclusão de curso.

Por meio de um projeto de extensão da TV UFF, sob orientação da professora Irene Gurgel, Luiz Fernandes teve o seu primeiro contato com uma comunidade quilombola: a de Jauari. “A possibilidade de conhecer o interior do Pará através da UFF despertou o desejo de desenvolver um trabalho em fotografia documental”, explica. O aluno ficou 35 dias na região e pôde conhecer uma história riquíssima permeada por quilombos, aldeias indígenas e campos de garimpo.

Jauari, assim como outras comunidades da região amazônica, é formada por pessoas de um mesmo tronco familiar. Segundo ele, “essa grande família, que hoje tem cerca de 220 pessoas, instituiu um modo de vida coletivo naquela propriedade”. Isso porque a solidariedade que os membros quilombolas assumem uns com os outros pode ser vista em todas as atividades do cotidiano: na pesca, na extração da castanha-do-pará, na caça a animas silvestres, nos cuidados domésticos e na fabricação de farinha, entre outras.

“O que me impressionou foi o senso de comunidade. O fato de a terra ser demarcada como propriedade coletiva das famílias que vivem em Jauari reforça a necessidade de viver em grupo. Eles realizam os trabalhos diários juntos: limpam a terra, plantam, pescam, usam a cozinha da comunidade para fazer farinha de mandioca. Desse modo, apoiando um ao outro, é que o sentido de resistência que existia no conceito quilombo ganha um novo significado de coletividade”, explica.

Luiz Fernandes fotografou a comunidade quilombola e seus moradores durante 10 dias, entre 6 e 16 de dezembro de 2009, com a ajuda do casal Dona Maria de Nazaré e Seu Zeca. Ele acompanhou o cotidiano dos membros de Jauari, como as tarefas de casa das mulheres, a pescaria, o trabalho coletivo de limpeza e os momentos de diversão (futebol, dominó e jogo de elástico).

Quando perguntado sobre a importância e a contribuição do trabalho que ele fez para a comunidade, Luiz Fernandes complementa: “A fotografia, além de servir como meio de memória e preservação das tradições culturais, pode ajudar a comunidade a levantar questões específicas sobre qualidade de vida e desenvolvimento social. Desse modo, o resultado do trabalho está de acordo com a prática dos direitos humanos aplicados a essa população importante para história do país”.

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