Por Carolina Araújo
Ao aliar a praticidade com o interesse pela fotografia, Anie Martins, de 26 anos, se deu conta de que havia encontrado a tão almejada inspiração para seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Jornalismo, da UFF. A escolha pelo modelo de ensaio fotográfico surpreendeu a própria estudante, que inicialmente queria fazer uma grande reportagem como projeto final da graduação.
“Meu interesse pela fotografia foi crescendo nos últimos semestres. No período em que fiz o projeto, estava muito mais voltada para a fotografia dentro do jornalismo. Meu interesse deixou de ser tanto pelos textos e se voltou mais para a construção de discursos pelas imagens. Percebi que teria muito mais vontade em fazer um registro fotográfico como projeto final”, conta Anie.
Se a escolha pelo ensaio fotográfico foi algo decidido nos últimos semestres da faculdade, o tema do projeto final de Anie Martins não, pois já era uma “paixão antiga”. A estudante sempre se interessou pela questão do espaço urbano e, por isso, optou por fotografar a ocupação indígena do antigo Museu do Índio, localizado ao lado do estádio do Maracanã, aproveitando a oportunidade de discutir o tema no âmbito acadêmico, além de se beneficiar da riqueza do espaço para a realização do trabalho.
“Imageticamente, é um lugar que mostra diferentes imagens o tempo todo. O antigo casarão do museu, que está em ruínas, é lindo (mesmo muito depredado). São muitas cores, espaços muito amplos. Um lugar lindo pra fazer fotos. E, claro, os membros e frequentadores da ocupação também geraram boas imagens”, comenta.
Mais do que uma obrigação para obter o diploma de jornalista, Anie revela que seu ensaio fotográfico foi, na verdade, um aprendizado. “Alguns consideram o projeto final como oportunidade de pôr em prática aquilo que se aprendeu durante o curso, um estudo aprofundado sobre o tema escolhido, mas, no meu caso, foi um momento de muito contato com a fotografia e de aprendizado. Foi um exercício riquíssimo de me perceber como fotógrafa, de entender mais sobre a câmera, um exercício contínuo de olhar, descobrir novas imagens a cada visita à ocupação”, relata.
Com sua Nikon D40x, a estudante visitava quase diariamente o antigo museu. No início, segundo ela, havia uma certa desconfiança por parte dos índios. Mas, aos poucos, Anie conseguiu ter livre acesso ao local. “Existia alguma desconfiança no começo, mas eu frequentei muito a ocupação. Foram quase oito meses de visitas contínuas. Passou a ser parte da minha rotina ir para lá. Eles acabaram se acostumando com a minha presença”, recorda.
De acordo com Anie, há índios que moram no antigo museu e outros que estão de passagem e ficam por pouco tempo. “Dentre os ocupantes, há uma índia que mora lá desde o início da ocupação, em 2006, que não permite ser fotografada. Eu queria muito uma imagem dela. Poderia até ter feito, mas não fiz. Escolhi não fazer”.
Interdisciplinaridade
Para ela, o ensaio foi fundamental para uma maior aproximação com a fotografia. Anie avalia o resultado de seu ensaio como satisfatório e afirma que não pretende se distanciar das lentes, aperfeiçoando-se ainda mais no tema. “O trabalho me ajudou por duas vias: minha bibliografia para o trabalho foi composta por temas como multiculturalismo, Geografia, História, que me fizeram pensar em me pós-graduar, ainda na Comunicação. E claro, tem a fotografia, que é uma das formas com a qual eu mais gosto de me expressar e na qual quero me aprimorar tecnicamente”, ressalta.
Como todo TCC, o projeto da estudante tinha um objetivo: levar para além do prédio da ocupação a causa defendida pelos índios. “O objetivo, inicialmente, era registar em imagens a ocupação do antigo Museu do Índio. Isso foi feito. Entretanto, também tinha outro objetivo: falar sobre a ocupação no âmbito universitário, extrapolando aquela barreira e divulgando a causa que esses índios defendem: a manutenção daquele espaço para que haja contato entre diferentes culturas”.
Para os que se interessam e pretendem realizar um ensaio fotográfico, Anie revela o principal diferencial deste trabalho em relação aos demais: a câmera. “Parece uma resposta idiota, mas você precisa do equipamento. Eu fiz com minha câmera. Então podia fazer fotos sempre. Era ir à ocupação e fazer o meu trabalho. Se você não tem câmera e precisa usar a da faculdade, é preciso se organizar muito, pois as suas saídas estarão condicionas à disponibilidade do equipamento. E ter disponibilidade para fotografar é fundamental, pois no ensaio é possível que você precise refazer algumas fotos. Um ensaio não é ter uma inspiração de madrugada, correr para o computador e escrever. É ter que sair de casa, com o equipamento, deslocar-se, fazer as fotos e depois em casa analisar com calma o material que você tem. Esse é o grande diferencial”, conclui.
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