terça-feira, 29 de novembro de 2011

Publicidade social: quando a proposta é promover a causa e não o produto

Gabriela Lima, aluna do curso de Publicidade na UFF, conta sua experiência na campanha em defesa do Instituto Benjamin Constant


Por Juliana Sampaio

Gabriela Cruz de Lima
Muito do que se produz no ensino superior tende a permanecer dentro dos muros da universidade ou atingir apenas o público formado pelos estudantes. Trazer melhorias para a população é um desafio para as instituições de ensino, principalmente as públicas, que não cobram pelas aulas, mas que são custeadas por impostos pagos por todos, seja em escala estadual ou federal. Mas um projeto de extensão do curso de Publicidade da Universidade Federal Fluminense (UFF) tenta dar essa resposta para a sociedade ao lutar contra o fechamento do Instituto Benjamin Constant (IBC), centro de referência em ensino a deficientes visuais no Rio de Janeiro. A instituição atende alunos em turmas que vão do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental.

O Ministério da Educação colocou em votação no Congresso a chamada Meta 4 do Plano Nacional de Educação, que prevê a migração de alunos com necessidades especiais para a rede pública de ensino. Com as transferências, o IBC e outros centros de ensino especializados teriam suas portas fechadas.

O projeto começou no primeiro semestre de 2011 na disciplina Realização de Campanha, ministrada pela professora Patrícia Saldanha, em que os alunos de Publicidade criam campanhas para clientes reais. A causa instigou tanto os alunos que eles pediram à professora que transformasse o trabalho em Projeto de Extensão para dar continuidade à iniciativa.

Patrícia Saldanha, especialista em publicidade social e em comunicação comunitária, não esconde o orgulho de despertar o interesse dos alunos para temas sociais. A professora conta que, devido à correria de fim de período e o calendário prejudicado pelos feriados, foram realizadas reuniões fora do horário e do local das aulas. Tudo para conseguir cumprir as etapas e ter sucesso na idealização de um trabalho tão importante. “O meu trabalho é o que eu tenho a oferecer para a sociedade. É a minha forma de retribuir a oportunidade que tenho de trabalhar em uma universidade federal”, comenta Patrícia.

Entenda o casoNo dia 25 de março desse ano, pais, professores, alunos e reabilitandos foram informados que até o dia 31 de dezembro os cerca de 300 alunos do IBC seriam transferidos. A partir daí, a batalha em defesa do instituto começou. Os pais e professores alegam que a rede pública de ensino não possui infraestrutura para atender os alunos com necessidades especiais de forma adequada. Além disso, alguns pais acumulam histórias fracassadas de inclusão. Os problemas enfrentados pelos alunos são muitos: escolas e material didático não adaptados, professores despreparados e até bullying. Em abril, o ministro da Educação, Fernando Haddad, descartou a possibilidade de fechamento do IBC e de outros centros especializados de ensino. Mas a apreensão de pais e alunos continua.

Para uma visão mais aprofundada sobre a importância desse projeto de extensão na vida dos alunos, conversamos com a aluna Gabriela Cruz de Lima, do 7º período de Publicidade da UFF. Gabriela está nesse projeto desde o começo e acredita que as experiências vivenciadas por ela nessa campanha vão acompanhá-la por toda a sua vida, profissional e pessoal.

Comuffaz: O que os alunos fizeram no semestre passado?
Gabriela Lima: No semestre passado nós visitamos o instituto e o nosso briefing era fazer um vídeo para ajudar a viralizar a campanha nas redes sociais, com o objetivo de aumentar o número de assinaturas do abaixo-assinado contra o fechamento do instituto. Ajudamos a espalhar o vídeo na rede e conseguimos uma matéria no Uninclusão sobre a campanha. Com essa campanha do período passado, conseguimos mais de 50 mil assinaturas. Como o projeto está para voltar para votação, o IBC pediu para nós fazermos desta vez um vídeo e uma ação de flashmob para também viralizar nas redes e aumentar o número de assinaturas com o objetivo de dar visibilidade à campanha e cobrar ações das autoridades.

Comuffaz: O que os alunos prepararam para esse semestre?
Gabriela Lima: Vamos executar três vídeos: um flashmob na Unisuam, que foi gravado em 23 de novembro, um outro flashmob nas barcas e um vídeo de depoimentos sobre como o IBC ajuda as pessoas com deficiência visual a serem bem-sucedidas na vida. Nas duas primeiras ações, o objetivo é fazer com que pessoas sem deficiência visual entendam, na prática, as dificuldades de se viver em um ambiente não adaptado às suas necessidades específicas. Na Unisuam, uma quantidade expressiva de alunos sem deficiência foi reunida em uma sala e uma prova em Braille foi aplicada. A sala estava equipada com filmadoras que captaram a reação dos alunos. Já nas barcas, a ideia é conscientizar sobre a dificuldade de acesso a um transporte público para um deficiente visual, mas a ação é segredo. O sucesso do flashmob está em causar espanto nas outras pessoas. 

Comuffaz: Como você se sente em fazer parte de um projeto tão importante para a sociedade?
Gabriela Lima: Nós, que estudamos Publicidade, fazemos campanhas de produtos o tempo todo. Utilizar essas habilidades para desenvolver algo que ajude quem precisa é algo que fica marcado na nossa vida e que desmistifica a Publicidade como simples difusora do capitalismo. Acho importante cada um fazer algo de bom para melhorar a sociedade.

Comuffaz: O ministro da Educação já disse que nem o IBC nem outros centros especializados de ensino seriam fechados. Vocês interpretam isso como uma vitória?
Gabriela Lima: Com certeza. A Meta 4 do Plano Nacional de Educação prevê a inclusão dos alunos com necessidades especiais, tais como deficientes visuais e auditivos, em escolas regulares. Mas como a rede pública de ensino irá atender esses alunos, já que enfrenta diversos problemas de infraestrutura e falta de profissionais capacitados? O reconhecimento desse problema pela sociedade é a nossa grande meta e ver políticos importantes, como o ministro da Educação e o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), colocarem-se a favor de nossa campanha é de grande importância.

Comuffaz: Essa experiência com publicidade social foi marcante pessoalmente? Você pretende levar isso para a sua carreira profissional?
Gabriela Lima: Sim, essa experiência me marcou porque pude ver de perto como algumas pessoas precisam de ajuda e que a sociedade deve se mobilizar para tal. Pretendo levar essas experiências não apenas para minha carreira profissional, mas para minha vida.
Caso você queira conhecer o trabalho do IBC, a sede do Instituto fica na Avenida Pasteur, na Urca, próxima ao campus Praia Vermelha da UFRJ e da Unirio.

Glossário
O briefing é um conjunto de informações, uma coleta de dados passadas em uma reunião para o desenvolvimento de um trabalho ou documento. O briefing deve criar um roteiro de ação para obter a solução que o cliente procura, é como mapear o problema, e com estas pistas, ter ideias para gerar as soluções. Brief (eng) = Dossiê.

Viralizar é fazer com que um conteúdo consiga ganhar vida própria na internet e seja replicado por diferentes pessoas por vontade própria. A foto, vídeo ou texto se espalha como se fosse um vírus.
Flashmobs são aglomerações instantâneas de pessoas em um local público para realizar determinada ação inusitada previamente combinada, estas se dispersando tão rapidamente quanto se reuniram. No mundo inteiro, flashmobs vêm ganhando cada vez mais aspectos políticos e não apenas para mudar a rotina ou modificar o meio urbano.

Fonte: Wikipédia

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