terça-feira, 29 de novembro de 2011

Muito além do entretenimento

Monografia de Vinícius Gonçalves Moreira procura demonstrar como as redes sociais podem aproximar as empresas de seus públicos de interesse


Por Isabel Muniz

A web 2.0 com seus blogs, redes sociais e até mesmo a Internet deixou de ser uma ferramenta dedicada ao entretenimento dos seus usuários. Cada vez mais as empresas exploram o ambiente virtual a fim de proporcionar um canal de comunicação direto com seus stakeholders (públicos com os quais a empresa se relaciona). Interessado em comunicação corporativa na rede, o ex-estudante da UFF Vinícius Gonçalves Moreira fez sua monografia para conclusão do curso de Jornalismo sobre o tema em 2009. Intitulado “Comunicação corporativa e novas mídias: como a Web 2.0 pode influenciar na relação entre as empresas e seus stakeholders”, o trabalho propõe uma análise desse recente nicho de atuação das empresas, apontando aspectos positivos e negativos a partir de exemplos de blogs corporativos.

Comuffaz: Como surgiu seu interesse pelo tema de sua monografia?
Vinicius Moreira: Ainda no estágio, surgiu uma demanda de criar perfis da empresa na qual eu trabalho, na época no Twitter, Orkut, Linkedin, no próprio Youtube. Com isso, comecei a pesquisar sobre o tema e percebi que não havia muita informação sobre o assunto. Poucas empresas estavam inseridas em redes sociais, blogs etc, e mesmo as que estavam não conseguiam pensar fora da caixa ainda. Então resolvi escrever sobre o tema, baseando-me nos pilares da web 2.0 e como estes preceitos poderiam se adequar à realidade corporativa. Como exemplo, utilizei os perfis e blogs de quatro empresas que já buscavam algum tipo de interatividade na rede.

Comuffaz: Em que lugares fez estágios durante a faculdade? Onde trabalha hoje?
Vinicius Moreira: Estagiei na seção de relações públicas e assessoria de imprensa da Justiça Federal durante seis meses. Depois fui contratado em 2007 como estagiário da Chemtech, uma empresa do grupo Siemens, que atua em Engenharia e Tecnologia da Informação, constantemente na lista das melhores empresas para se trabalhar no país. Dois anos depois fui contratado como analista júnior. Atualmente tenho quatro anos de casa. Sou funcionário da área de Corporate Communications da Siemens e sou responsável pela área de comunicação corporativa da Chemtech. O mundo da comunicação corporativa, para quem gosta, é um prato cheio. Você pode atuar em diversos segmentos, desenvolver textos para diversos veículos, participar de projetos editoriais, de planejamento de campanhas. Aprende muito sobre marketing, sobre o mundo corporativo. Isto sem contar que a rotina é um pouco mais tranquila que nas redações (só um pouco), o mercado é muito grande e o salário é melhor que no geral. Tudo isso com desafios bem interessantes, e, ao contrário do que muitos imaginam, não existe essa coisa da rotina de trabalho. Uma empresa é um organismo vivo, em constante desenvolvimento e mutação. Pretendo continuar me enveredando nessa área.

Comuffaz: Em sua opinião, o que uma empresa precisa para obter sucesso e alcançar o maior público possível no ambiente 2.0?
Vinicius Moreira: Pensando não apenas no que escrevi na minha monografia, mas também na experiência de trabalho, acho que a empresa deve se basear em dois pilares: “falar a língua do seu público na rede” e “dialogar com esse público”. É importante que a companhia aborde temas relevantes para o público, oferecendo uma espécie de serviço ou focando até mesmo o entretenimento, por mais que não tenham muito a ver com o negócio da empresa especificamente. Assim você provoca o debate, estimula os compartilhamentos, ganha novos seguidores. Quanto ao segundo aspecto, experimente não responder a um questionamento de um usuário em seu perfil, uma acusação ou mesmo uma citação. É bem provável que ele inicie uma verdadeira cruzada nas redes, falando mal da sua empresa.

Comuffaz: quais são os principais erros que as empresas cometem na rede?
Vinicius Moreira: Acho que o principal erro é falar apenas de si, de seus serviços, produtos e negócios. Com tanta coisa acontecendo na rede, usuários com claros problemas de prestar atenção em apenas uma coisa, que tipo de beneficio essa empresa espera oferecer ao leitor, para prendê-lo, citando apenas tudo que possa ser visto em seu próprio site?

Comuffaz: Você acha que um blog é algo que humaniza a empresa, já que o site parece ser algo mais formal
Vinicius Moreira: Sim, mas agindo de forma similar às redes. Ninguem lê um blog que fale apenas do dia a dia da empresa, do projeto que ela desenvolve, da ação que ela praticou. Aborde outros temas, traga os serviços e produtos oferecidos para dentro do mercado, insira-os na sociedade, provoque debates com o seu blog, nos quais seus produtos e serviços possam solucioná-los. Aqui na Siemens, desenvolvemos um blog sobre sustentabilidade que aborda temas desde inovações tecnológicas até questões de saúde, sociais. Ser sustentável também demanda suscitar o debate, e o blog é uma ótima ferramenta para tal.

Comuffaz: Quando alguma empresa passa por uma situação difícil, alvo de denúncias, por exemplo, você não acha que esse espaço colaborativo não pode acabar se tornando uma "armadilha", potencializando uma crise?
Vinicius Moreira: Essa é a questão. Dependendo da forma como você vai gerir a crise, o “ambiente colaborativo” dentro da rede pode ser um grande aliado. Vide o blog “Fatos e Dados” da Petrobras, por exemplo. Em caso de denúncias ou falhas de operação que gerem comentários na rede, é fundamental que a empresa se faça presente, responda, dialogue, mostre que o fato não é verdadeiro, ou caso seja, como está sendo contornado. O público aceita o fato que a empresa pode errar. Ele não aceita que ela, sabendo que errou, ignore o fato, escondendo-se no seu tamanho ou força política.

Comuffaz: Qual sua opinião a respeito da relação entre empregado e empresa na web? Recentemente, funcionários de jornais foram demitidos por postarem no Twitter comentários que desagradaram à empresa em que trabalhavam.
Vinicius Moreira: Da mesma forma que um perfil é um canal oficial da empresa dentro da grande rede, o perfil “pessoa física” também tem que ser encarado como algo público. Por mais que existam restrições nesses perfis, quanto à visualização por pessoas que não fazem parte da sua relação de amigos, sempre acaba vazando alguma coisa indevida que você escreve. Afinal, todas as pessoas que você tem no seu Twitter ou Facebook são mesmo seus amigos? Certamente não. Por isso, é importante, sim, a pessoa se resguardar em seu perfil e evitar polêmicas, excessos de fanfarronice, reclamações diretas ao empregador.
Comuffaz: Em sua monografia você trabalha com dois principais conceitos: sustentabilidade empresarial e stakeholders. O que eles representam para as empresas?
Vinicius Moreira: Os conceitos de sustentabilidade empresarial e stakeholders são complementares, na verdade. Os stakeholders nada mais são do que os públicos com quem a empresa dialoga. É um erro comum pensar que a empresa deve se relacionar apenas com seus clientes e funcionários, garantindo a venda de seus produtos e a produtividade de sua equipe. Na verdade, é fundamental um diálogo bem equilibrado com outros públicos, como: imprensa, acionistas, comunidade, políticos, fornecedores, outras empresas concorrentes ou parceiras. E a forma como se dá essa relação em vias de mão dupla, com ética, desenvolvimento de ações, prestações de contas à sociedade é justamente a forma correta de garantir a sustentabilidade corporativa. Quando você se preocupa com o seu entorno, com os players que se correlacionam em rede com a sua empresa, você garante que seus negócios sejam mais produtivos, provoquem menos impacto ambiental e, consequentemente, sejam mais lucrativos, pois a sociedade, hoje, está preferindo empresas com boa reputação.

Comuffaz: E quanto à sua formação acadêmica, você acha que, por esse tema ser relativamente novo, as faculdades precisam melhorar em relação a esse tipo de conteúdo?
Vinicius Moreira: Formei-me em quatro anos, cumprindo toda a carga horária, e, se tive quatro ou cinco matérias relacionadas à comunicação corporativa, institucional, novas mídias digitais, internet etc, foi muito. É claro que o foco da faculdade de Jornalismo tem que ser o “fazer jornalístico”, a maneira correta de comunicar. Mas é importante oferecer uma base teórica também para o que a pessoa possa vir a encontrar no mercado, e isso, infelizmente, todas as faculdades ainda precisam se atualizar.

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