sábado, 19 de novembro de 2011

Livro analisa memórias narrativas de O Globo sobre a Chacina da Candelária

Professora Danielle Brasiliense aborda os desafios de produzir reflexão crítica sobre episódio que resultou na morte de oito moradores de rua


Por Vanessa Andrade

Danielle Brasiliense (Foto: Divulgação)
Há dezoito anos, mais precisamente na madrugada do dia 23 de julho de 1993, oito moradores de rua, sendo dois menores, foram assassinados enquanto dormiam nas proximidades da Igreja da Candelária, no Centro do Rio. O crime, que ficou conhecido como a Chacina da Candelária, chocou o país. Sem uma causa específica, policiais militares abriram fogo contra mais de setenta crianças e adolescentes. Baseada na análise discursiva do jornal O Globo sobre o episódio, a professora do Instituto de Artes e Comunicação Social (IACS) da Universidade Federal Fluminense (UFF) Danielle Brasiliense publicou, em 2009, o livro "A Chacina da Candelária e as memórias narrativas de O Globo".

A ideia do livro, segundo a professora, surgiu da sua dissertação de mestrado. Com uma temática bastante complexa nas mãos, a autora levou dois anos para concluir a pesquisa sobre o assunto. A publicação apresenta reflexões sobre as narrativas do jornal O Globo acerca do assassinato de menores abandonados nas ruas do Rio de Janeiro, percebidos dentro de uma determinada concepção do senso comum como representantes do mundo da desordem social. Nesse sentido, a docente analisa não só a maneira pela qual a imprensa constrói o acontecimento, mas principalmente de que forma os meios de comunicação gerenciam os trabalhos da memória.

Danielle Brasiliense falou também sobre os desafios de abordar um tema tão complexo. “Os desafios da pesquisa se deram pelo peso da temática. Não foi fácil perceber o descaso com a chacina, ver os menores como sujeitos de uma desordem social ao mesmo tempo em que eram vítimas de uma violência”, contou.

Diante da brutalidade dos assassinatos, muitas pessoas guardam uma lembrança forte sobre o episódio. A autora do livro diz que se recorda do crime pelos meios de comunicação como uma cena de terror, uma ameaça que abala toda a sociedade.

Um dos sobreviventes da chacina, Sandro Barbosa do Nascimento, mais tarde voltou aos noticiários como protagonista do sequestro do ônibus 174, que resultou na morte de uma refém e do próprio Sandro, em 12 de junho de 2000 no Jardim Botânico, bairro da Zona Sul carioca. Foram lançados o documentário "Ônibus 174" e o filme "Última parada 174", que abordam também a Chacina da Candelária para contar a história do sequestrador. Embora apresentem a mesma temática, a professora afirma que as duas produções exploram ângulos diferentes sobre o acontecimento. “Gosto do documentário, que me ajudou bastante. Vi umas cinco vezes. Não gostei do filme. Achei muito forçado, talvez porque tenha gostado muito do anterior”.

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