quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Expocom: vitrine acadêmica para produção discente em Comunicação

Participantes do Expocom e vencedores de edições anteriores comentam importância do evento, mas também suas limitações. Para o professor Alexandre Farbiarz, "quando os nossos trabalhos são premiados, isso mostra que o tipo de proposta que a gente tem tido na universidade consegue ultrapassar a barreira"

Camilla de Faro e Felipe Magalhães


Estudantes do curso Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense (UFF) participaram entre os dias 3 e 5 de julho da etapa regional Sudeste da Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom), em Bauru, no Interior de São Paulo. 

André Borba, estudante de Jornalismo, 20 anos, foi aluno-líder de um dos trabalhos participantes na categoria Produção Transdisciplinar, na modalidade Produção Multimídia. Apoiada pela Caqui Filmes - um projeto de produções audiovisuais dos alunos de jornalismo Douglas Nascimento, Filipe Galvão, Gabriel  Vasconcelos e  Wesley Prado - e pela Agência Drops, criada por alunos de publicidade, a campanha de lançamento da edição nº 1 do jornal O Casarão incluiu vídeo institucional, memes da internet e peças publicitárias. Antes da premiação, o estudante ressaltou que mais importante que vencer é acreditar no que é feito. “Quando a gente faz O Casarão, não está pensando em prêmio. A gente faz porque a gente gosta”, orgulha-se.

Vídeo de lançamento da edição número 1 de O Casarão

Os candidatos passam por uma peneira de etapas até chegar aos finalistas da competição. Primeiro, os trabalhos são apresentados para a banca de professores da própria universidade, para saber quais irão representá-la. Depois, são enviados pelo site para aprovação de uma comissão julgadora e, por fim, há a etapa final, na Expocom. Cada uma das 68 categorias só permite um envio de proposta por instituição. São cinco concorrentes por categoria, com estudantes de universidades do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo na disputa.

“Quando a gente faz O Casarão, não está pensando em prêmio. A gente faz porque a gente gosta” (André Borba, estudante de Jornalismo da UFF)


O professor da disciplina Planejamento Visual Gráfico da UFF, Alexandre Farbiarz, conta que a participação da universidade é recente. Segundo ele, os professores antes faziam presenças pontuais, mas não iam como coletivo. “Já tem cerca de quatro anos que a gente se juntou para ir para a Expocom. Antes isso não acontecia. Na verdade, alguns professores iam por iniciativa própria, para estimular os alunos a desenvolver os trabalhos.”

De acordo com o professor, a vontade de expor os projetos dos alunos foi determinante nesta mudança de postura. “No nosso curso, a gente via o potencial que os trabalhos dos nossos alunos tinham e a gente não estava lá. Alguns professores, especialmente a professora Patrícia (Saldanha) e a professora Ana Paula (Bragaglia), começaram a organizar os alunos, distribuir as orientações, organizar ônibus. Foi muito bacana.” Segundo ele, tudo é muito saudável e proveitoso. “Os alunos vão em grupo, o que é super legal. A Ana Paula conta que percebeu, no ano passado, que o fato dos alunos irem juntos é muito bom, porque um participa da apresentação do outro, fica torcendo. Eles se apóiam.”

Para Farbiarz, o fato de os professores fazerem a pré-seleção é um pouco incômodo, tanto para os docentes quanto para os alunos.  “A Expocom estabelece uma série de categorias e para cada categoria só pode um trabalho por instituição. Acho isso até meio estranho, mas é norma da Expocom. Embora seja o aluno que esteja se inscrevendo com o seu trabalho, ele é um representante da instituição. Ele ganha, mas é a universidade dele que está ganhando junto. Quer dizer, ou liberava tudo ou efetivamente institucionalizava as inscrições. Então, infelizmente cabe aos professores fazer uma pré-seleção. Em algumas categorias vai um; só tem ele mesmo. Outras têm mais de um candidato. Há uma seleção que vai dizer qual deles é o melhor. Infelizmente é assim, e isso incomoda um pouco os alunos”. Ele ressalta que o fato de um trabalho não ser selecionado não quer dizer que não seja bom, mas que “os professores têm uma experiência, então, sabem o que se espera de um trabalho em Expocom”.

“O fato dos alunos irem juntos é muito bom, porque um participa da apresentação do outro, fica torcendo. Eles se apóiam” (Alexandre Farbiarz, professor)


E engana-se quem pensa que a Expocom é apenas para quem está concorrendo. Leonardo Bigio, de 23 anos, estudante de Jornalismo da UFF, teve seu trabalho não classificado na modalidade Revista – Laboratório Impressa. Aluno-líder do projeto Brainstorm, que consistia na elaboração gráfica de uma revista conceitual de ciências para crianças, ele comenta sua curiosidade em conhecer outros trabalhos, uma vez que se trata de um ambiente de disputa acadêmica, no qual as propostas não são necessariamente reguladas pela lucratividade ou audiência do mercado, e sim por sua originalidade. “O importante na derrota é quase sempre a experiência”, comenta. Experiência esta que, em seu caso, não o desanimou a seguir em frente com o projeto, bastante elogiado pelos professores. “É muito bem embasado, possui ótima repercussão social e é extremamente original. Provavelmente, vou procurar editoras para que eu tenha mais controle sobre a forma de apresentação aos avaliadores.”

“Não tem preço ter aqueles troféus em cima da estante a UFF me representa e eu adoro representá-la também” (Isadora Prado, estudante de Publicidade e Propaganda)


Já Isadora Prado, de 22 anos, estudante de Publicidade e Propaganda da UFF,  ganhou o prêmio na modalidade Agência Júnior de Publicidade na edição do ano passado. Com o trabalho “Aê - Comunicação Começa Aqui”, ela conta que a ideia de inscrevê-lo como agência experimental surgiu na disciplina de Tópicos Especiais de Propaganda, ministrada pela professora Patrícia Saldanha, onde muitos alunos já haviam desenvolvido em outros semestres planejamentos de campanha quase sempre com cunho comunitário, o que acabou virando o diferencial do projeto. “A Expocom é uma experiência que recomendo todos os estudantes a participar. É importante porque você sai do seu universo de sala de aula e tem a oportunidade de ter contato com outros trabalhos maravilhosos país afora”, afirma Isadora, ratificando a importância de participar do evento, não apenas visando ao prêmio. Apesar disso, Isadora ressalta que gostou bastante de ter ganhado: “Não tem preço ter aqueles troféus em cima da estante. A UFF me representa e eu adoro representá-la também”.

Isadora Prado, com o prêmio, na Expocom 2012:
participação rendeu experiência valiosa para a estudante

CRÍTICAS DOS ALUNOS

Um estudante e concorrente a um dos prêmios da Expocom Sudeste reclama do atraso que supostamente teria ocorrido em função do grande número de envios. Segundo ele, que pediu para não ser identificado, no calendário que a organização divulgou estava escrito que a divulgação do resultado de quem iria para a terceira etapa seria no dia 6 de junho, mas alguns resultados, incluindo o dele, só saiu quatro dias depois.
A Expocom informou que o atraso ocorreu por causa do grande número de trabalhos, mas, para o aluno, faltou organização, já que o evento aconteceu em outros anos e deveria servir de experiência para evitar esse tipo de situação. “Esse não é o primeiro Expocom. Eles já devem ter uma ideia de quantos trabalhos são esperados. Quantidade de trabalho não é desculpa.”

Outro ponto negativo apontado pelos alunos foi, também, o mecanismo pelo qual são dadas as respostas. Leonardo Bigio estranhou a falta de justificativa para a não classificação de seu projeto que, segundo ele, é uma “coisa que se espera de um evento acadêmico que é pago para participar”.

A VALORIZAÇÃO DOS TRABALHOS

Todo semestre é um corre-corre, e quem já teve Alexandre Farbiarz como professor sabe que estudar Planejamento Visual Gráfico dá trabalho. Literalmente. O docente, participante ativo na Expocom, também acredita que os prêmios ajudam a valorizar tanto o esforço dele quanto o dos estudantes. “Tive alunos premiados e quase premiados. E mesmo os alunos que foram quase premiados foi bom, porque primeiro valoriza o trabalho deles. Acho que quem já foi meu aluno sabe que essa disciplina dá muito trabalho. E aí você percebe que aquilo que você faz de alguma forma tem um valor, quer dizer, que não é só um trabalhinho para a disciplina do professor Farbiarz, que aquilo efetivamente tem uma representatividade até fora da universidade, porque as pessoas vão olhar para aquilo e dizer 'Bacana! Legal! Isso é muito bom!'”

INFLUÊNCIA MERCADOLÓGICA

A formação crítica é extremamente incentivada pelos professores do Departamento de Comunicação Social da UFF, conforme explica Farbiarz, mas o mercado de trabalho também é uma das grandes preocupações dos jovens universitários. Para o docente, o concurso tende a ir para um viés mercadológico, mas quando um trabalho consegue manter seu viés crítico é excelente. “Uma das coisas que a gente discutia era a ideia mercadológica, que é muito forte lá na Expocom. A maioria dos trabalhos atende aos padrões do mercado. E o nosso curso não é isso. O nosso curso busca coisas diferentes. Então, os trabalhos com esse viés crítico, diferencial, não- hegemônico, como a Patrícia (Saldanha) gosta de colocar, eu acho ótimo, porque a gente apresenta uma possibilidade de um trabalho de valor numa situação que está privilegiando o que é comum. Quando os nossos trabalhos são premiados, isso mostra que o tipo de proposta que a gente tem tido na universidade consegue ultrapassar a barreira.”

René Nunes fazia parte de uma das turmas de Farbiarz há alguns anos e não imaginava que fosse virar dono de revista. Dentro da disciplina, desenvolveu e finalizou o projeto de uma revista de skate e apostou nele como forma de concluir o curso, como monografia. Nunes ganhou o prêmio de melhor monografia e deu continuidade à empreitada. A versão impressa terminou, mas ainda há a online. “Acredito que uma das coisas que o ajudou tenha sido prêmio. O reconhecimento de aquilo que ele fez é bom. Não vou dizer que é determinante, que alguém que não tenha ganhado um prêmio não vai ter chance, não é isso, mas sem dúvida ajuda”, conclui o professor.

Sobre o assunto, ver também matéria “Alunos de Publicidade da UFF mostram sua produção na Expocom 2013

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