terça-feira, 29 de novembro de 2011

O olhar fotográfico aguçado por trás do livro ‘Imagens Humanas’

Professor Dante Gastaldoni é organizador do livro “Imagens Humanas", de João Roberto Ripper, e curador da exposição de mesmo nome


Por Tereza Baptista

Dante aprova o livro. Foto: Marcela Sá
“Tudo acabou sendo um grande e único processo, às vezes meio mágico, às vezes tenso, muitas vezes insano e quase sempre arrebatador”. Assim o professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal Fluminense (UFF) Dante Gastaldoni define a árdua tarefa de organizar a edição do livro “Imagens Humanas”, lançado por João Roberto Ripper em dezembro de 2009, e  exercer a curadoria da exposição homônima, que já passou por diversos estados brasileiros.

Veja online o livro "Imagens Humanas"

Comuffaz - Como surgiu a ideia de organizar o livro “Imagens Humanas”, do João Roberto Ripper? O que o motivou?
Dante Gastaldoni - A ideia do livro e da exposição nasceram juntas, quando a Mariana Marinho, da Dona Rosa Produções, conheceu e se emocionou com o trabalho do Ripper, em 2007. Na ocasião ela me convidou para dividir o projeto editorial e fazer a curadoria da exposição, a partir de uma sugestão do próprio Ripper, que insinuou o interesse em trabalharmos juntos.Quanto à motivação para mergulhar neste trabalho, vale dizer que poucas imagens são tão radicalmente humanas quanto as fotografias produzidas por João Roberto Ripper. Elas são frutos de um olhar humanista sobre os muitos territórios que integram nosso país e constituem um vigoroso painel fotográfico do povo brasileiro, cujo fio condutor são os direitos humanos. E apesar de toda essa pujança, o Ripper estava completando 35 de profissão sem ter nenhum livro publicado. Acho que não preciso explicar mais nada.

Comuffaz - Vocês parecem manter uma relação de amizade. Há quanto tempo e de onde se conhecem?
Dante Gastaldoni - Conheço o Ripper desde sempre. Conheço Ripper desde a noite dos tempos e vem daí a minha admiração e o meu respeito por seu trabalho. Ele já era uma referência e uma inspiração para mim quando liderou a luta dos repórteres fotográficos por melhores condições de trabalho no início da década de 1980. Depois a gente ficou mais próximo no início da década de 1990, quando ele fundou a cooperativa Imagens da Terra e trabalhou com meia dúzia de fotógrafos formados pela UFF, mas a nossa amizade estreitou-se mesmo ao longo dos últimos sete anos, quando atendi ao seu convite para assumir a coordenação acadêmica da Escola de Fotógrafos Populares, na Favela da Maré. Isso, de certo modo, proporcionou uma cambalhota tanto em minha vida pessoal como na vida acadêmica. Fui obrigado a redefinir meus conceitos sobre a favela, ganhei amigos preciosos e tive o privilégio de dar aulas para os mais talentosos fotógrafos que conheci em 30 anos de magistério.

Comuffaz - Como foi o processo de seleção das fotografias? Quais os critérios que usou para escolhê-las?
Dante Gastaldoni - Mergulhamos em um acervo com cerca de 140 mil negativos, com o apoio de duas fotógrafas formadas na Maré – a Elisângela Leite e a Ingrid Cristina – que atuaram como assistentes de pesquisa durante quase um ano. Desse primeiro mergulho emergiram umas cinco mil imagens, divididas por temas: índios, carvoeiros, quilombolas, ligas camponesas, trabalhadores urbanos, favelas, entre outros. Depois tive a ideia de trabalhar com sentimentos, já que o tema em pauta eram as “imagens humanas”. E assim fechamos em quatro módulos: Amor, Dor, Resistência e Liberdade, nos quais as imagens de índios, carvoeiros, quilombolas etc apareciam e reapareciam em diferentes contextos, ao sabor da sensação dominante de cada parte do livro ou da exposição, reservando ao final, em ambos os casos, um grande painel para os retratos frontais desses heróis anônimos, que nos encaram de perto, com a previsível cumplicidade do fotógrafo.

Comuffaz - Quais as dificuldades que encontrou ao editar o material? Quantas fotos entraram no livro e quantas para exposição?
Dante Gastaldoni - Das 140 mil imagens, entraram 250 fotos no livro e 70 na exposição. Será que é preciso dizer mais alguma coisa?

Comuffaz - Não! Certamente podemos ter uma dimensão do trabalho que foi selecioná-las. E o que mais te chamou a atenção durante esse longo processo?
Dante Gastaldoni - Fico perplexo com a capacidade que o nosso país tem de ser omisso com seus heróis. A oportunidade de rodar o Brasil com o Ripper, participando de concorridos debates em diversas cidades onde a exposição esteve exposta, mostrou-me que ainda temos muita memória a preservar por esses “Brasis”.
Dante Gastaldoni formou-se em Jornalismo e Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF), respectivamente em 1975 e 1980, tendo concluído em 2005 seu Mestrado em Comunicação Imagem e Informação. Fotógrafo profissional desde 1972, atua basicamente em fotografia documental e reportagens fotográficas. Entre 1974 e 1983, trabalhou como repórter, redator e editor no Jornal do Brasil, de onde saiu para dirigir a Editora Gama Filho. É professor concursado da UFF desde 1980 e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde 1983, lecionando as disciplinas Linguagem Fotográfica e Fotojornalismo. Em paralelo, exerce atividades de curadoria e consultoria em projetos culturais.

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